Skip links

Incertezas Fiscais

A Ata do Copom sobre a reunião de junho foi mais pessimista em relação ao processo inflacionário. O Banco Central do Brasil (BCB), em seu cenário de referência, projeta uma inflação em torno de 8,8% para 2022, 4,0% para 2023 e 2,7% para 2024. É importante esclarecer que essas projeções não incorporam o impacto das medidas tributárias sobre preços de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações que estão em tramitação. Com isso, no curto prazo, espera-se um efeito de queda de 20% no preço da gasolina C e de 10% na conta de energia elétrica, o que contribui para o processo de desinflação da economia brasileira.

Entretanto, eventos da economia internacional são geradores de pressões inflacionárias globais mais prolongadas, tais como os choques de oferta ligados à guerra na Ucrânia e à política chinesa de combate à Covid-19. Paralizações parciais nos canais de distribuição de grãos e mercadorias são choques inflacionários preocupantes para a economia mundial.

O quadro a seguir reflete os balanços de risco para a inflação brasileira:

Fonte: 247ª Reunião – 14-15 junho, 2022.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada no Senado representa uma política fiscal expansionista de estímulos à demanda agregada. O custo do Auxílio Brasil de R$ 600, o aumento do vale-gás e o voucher de R$ 1 mil para os caminhoneiros estão estimados no valor de R$ 40 bilhões em despesas fora do teto até dezembro. Contudo, há uma preocupação sobre a permanência dessas despesas para os próximos anos, transformando despesas temporárias em permanentes. Ou seja, as incertezas em relação ao arcabouço fiscal prejudicam a formação das expectativas de longo prazo.

Com efeito, o risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos exige um aperto monetário avançando por mais tempo no terreno contracionista. O comitê sinalizou a necessidade de manter sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, isto é, a expectativa de inflação para 2023 abaixo de 4,0% ao ano.

O mercado analisa com preocupação a utilização da PEC como instrumento eleitoreiro contornando a lei eleitoral e o teto dos gastos, reconhecendo um estado de emergência absolutamente oportunista. Ademais, a política fiscal diverge da política monetária mais contracionista, dificultando o combate à inflação persistente e a ancoragem das expectativas do IPCA para 2023.

Um equilíbrio fiscal mais frágil ajudou a impulsionar o dólar para cima, no patamar de R$ 5,25, e um aumento na taxa de juros real neutra de equilíbrio de 3,5% para 4,0% pressionou a taxa de juros para cima. Em suma, as incertezas fiscais levarão a economia brasileira a conviver com uma taxa de juros e câmbio mais pressionada.